
A prisão de Jorge Alberto Moreth, conhecido como Beto Bomba, na última terça-feira (03), em Itaperuna, está rendendo polêmicas. Cerca de dez dias depois, sua companheira — que havia denunciado lesões corporais contra ele na delegacia da cidade — agora alega que foi induzida a prestar depoimento, dizendo também que não foi agredida. Ao Manchete RJ, o delegado responsável pela prisão, Carlos Augusto, negou as afirmações da mulher, acrescentando que o Ministério Público acatou a tese investigativa e denunciou o investigado.
Beto Bomba é apontado pela polícia como um criminoso de alta periculosidade. Ele foi condenado, em 2021, a nove anos de prisão por integrar a milícia de Rio das Pedras. O homem também foi investigado pelo Ministério Público no caso das mortes da vereadora Marielle Franco e do motorista Anderson Gomes.
No entanto, não foi por nenhum desses motivos que ele foi preso na última terça-feira. Os policiais da 143ª DP o autuaram em flagrante delito por lesões corporais contra a própria companheira. A mulher teria relatado, durante o registro de ocorrência, que sofreu agressões, dizendo também que o ex-miliciano a teria expulsado de casa e jogado suas roupas para fora.
Por outro lado, a mulher afirmou publicamente nesta quinta-feira (12) que não foi agredida, justificando que foi induzida por policiais a prestar depoimento e realizar exame de corpo de delito contra sua vontade. As declarações foram feitas com exclusividade ao jornalista Gabriel Clalp e confirmadas pela própria ao Manchete RJ.
Durante a entrevista, a companheira de Beto Bomba relatou que a discussão com Jorge ocorreu por conta de ciúmes, em meio a uma crise no relacionamento. Segundo ela, foi ela mesma quem agrediu o companheiro durante o desentendimento, e que ligou para a polícia porque queria apenas sair de casa naquele momento.
“A briga começou por ciúmes. Joguei minhas roupas pela janela, queria ir embora. Liguei pra polícia, e ele, calmo, falou: ‘Pode ligar, que eu vou com você’. Eu tava nervosa, faço uso de remédios pra depressão, síndrome do pânico… às vezes tenho rompantes exagerados”, contou.
Ela afirma que, ao chegarem ao local, os policiais a forçaram a ir para a delegacia, mesmo ela insistindo que não queria registrar nenhuma denúncia.
“Eu disse que não queria ir, que já tinha dado, era coisa de casal. Mas os policiais disseram que eu era obrigada, que não iam embora sem me levar. Me obrigaram a ir, me obrigaram a fazer exame de corpo de delito. Eu falei que não queria fazer. O policial disse que eu era obrigada.”
A Polícia Civil informou que o laudo pericial do exame de corpo de delito realizado na vítima constatou “visíveis lesões corporais nela provocadas”, compatíveis com sua declaração na delegacia. A mulher, por sua vez, questionou o que foi registrado no laudo e afirmou que as marcas no corpo eram de outra origem.
“Eu trabalho em casa, sou branca, me bato fácil. Limpo tudo, me arranho… Não queria fazer o exame. Mas disseram que eu era obrigada”, disse ao jornalista Gabriel. Ao Manchete, ela já apresentou uma nova versão, dizendo: “Eu tinha alguns roxos antigos, sou muito branca e, na hora que eu me avancei nele, devo ter me machucado”.
O delegado Carlos Augusto rebateu as falas da mulher e disse que o depoimento da vítima foi espontâneo. Ele acrescentou que o Ministério Público acatou a tese investigativa da Polícia e denunciou o investigado. O Poder Judiciário já recebeu a denúncia, e “Beto Bomba” passou a ser réu.
“Em primeiro lugar, quem acionou a polícia foi a própria vítima. Em segundo lugar, o crime de lesões corporais contra a mulher é de ação penal pública incondicionada. Portanto, independe de qualquer manifestação de vontade da agredida. Por fim, ela mesma prestou declarações espontâneas acerca do ocorrido em sede policial. Ocorre que, depois de o advogado do preso comparecer à delegacia, ela teria sido por ele orientada a mudar a versão, o que não foi autorizado.”
Em resposta à fala do delegado, a companheira de Jorge negou que qualquer advogado tenha chegado à delegacia no momento em que prestou depoimento e reafirmou que ninguém a orientou a mudar sua versão dos fatos.