
Foragido há mais de seis anos e apontado como o terceiro homem mais influente do Comando Vermelho fora do sistema penitenciário, o traficante Fhillip da Silva Gregório, conhecido como Professor, foi encontrado morto na noite deste domingo. Segundo a polícia, ele chegou já sem vida à Unidade de Pronto Atendimento (UPA) de Del Castilho, na Zona Norte do Rio. Professor, que comandava parte do tráfico no Complexo do Alemão, foi atingido por um disparo de arma de fogo. Ele tinha 65 anotações criminais.
De acordo com a Polícia Militar, a guarnição foi acionada às 21h20 deste domingo pelo Centro de Operações para verificar a entrada de um homem baleado na unidade de saúde. Na UPA de Del Castilho, os policiais encontraram a esposa da vítima, Gabriele de Almeida Rangel, e o advogado Eli Florêncio da Luz, que identificaram Fhillip da Silva Gregório.
A Polícia Civil afirmou que “a Delegacia de Homicídios da Capital (DHC) foi acionada e investiga a morte de Fhillip da Silva Gregório, o Professor”. De acordo com a corporação, uma testemunha, com quem ele mantinha relação extraconjugal, “se apresentou e afirmou que ele cometeu suicídio”. A mulher, ainda conforme a Polícia Civil, entregou a arma que teria sido usada pelo criminoso. “Diligências estão em andamento para apurar todos os fatos”, encerra a nota.
Quem é Professor?
Ele é investigado por abastecer o Comando Vermelho com armas, drogas e munições, mantendo contatos no Paraguai, Peru, Bolívia e Colômbia. Além disso, é apontado como responsável por negociações de armamentos com fornecedores internacionais, incluindo a aquisição de armas da Europa.
Em abril deste ano, foram reveladas mensagens interceptadas pela Polícia Federal que escancaram acordos fechados por policiais militares com Fhillip da Silva Gregório. Numa conversa com um PM, de maio de 2022, o criminoso pede a um policial que trabalhava na região para que ele tirasse um blindado da favela.
“Saiba que aqui sempre vai ter um diálogo, mas eu não sou bobo. Tenho a força, ninguém tem mais soldado e fuzil que eu na facção, nem por isso fico de arrogância”, escreveu Professor pelo WhatsApp. O PM acatou: “Suave, já desenrolei. Ordem (era) pra colocar o blindado no Engenho. Mas já quebramos”.
Em seguida, o traficante explicou ao agente como funcionam os acordos fechados entre a polícia e o tráfico na região:
“Deixa eu te explicar, mano. O cara lá de cima pediu pra dar uma segurada no morro. Eu seguro. Mas falei: ‘Deixa a Coreia e não faz operação por roubo que senão eu mando roubar tudo’ …. “Meu bagulho é droga, eu vender minha droga. Hoje, o GAT (Grupamento de Ações Táticas, unidade operacional de um batalhão) já tava na Coreia. Deixa meu bagulho andar, mano”.
O PM, então, justificou o motivo de o blindado estar na favela. “Foi nós na Coreia, mano. Pra tirar uma barricada que tá no meio da rua, mas ali é pista. Não pode fechar a pista, mano”, escreveu. O policial não foi identificado.
Operação Dakovo
Os diálogos fazem parte da mesma investigação que revelou os contatos de comandantes de UPPs da favela com Professor. As mensagens também mostram oficiais da PM combinando com o criminoso quais partes da favela podem ser patrulhadas e elogiando sua “gestão” à frente do tráfico na região.
As conversas estão no inquérito que culminou, em dezembro de 2023, na Operação Dakovo, em que 28 pessoas foram denunciadas pelo Ministério Público Federal sob a acusação de atuarem no tráfico de 43 mil armas do Paraguai para facções criminosas do Brasil.
A investigação descobriu que Professor, que mantinha contatos frequentes com criminosos no Paraguai, Peru, Bolívia e Colômbia, era o principal responsável pela compra das armas usadas pelo CV no Rio. Ele teve a prisão decretada pela Justiça Federal da Bahia, mas nunca foi encontrado.
As conversas entre Professor e os policiais, obtidas através da quebra do sigilo do traficante, expõem “o poder exercido por Professor, bem como sua relação com supostos oficiais da PM do Rio de Janeiro”, segundo relatório do Grupo de Investigações Sensíveis (Gise) da PF da Bahia.
*Com informações do Extra